quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Olhar da Rua


Nas palafitas barracos e becos
O estado é só repressão.

O destino é o medo calado
Ou violência, assassinatos, prisão.

Nos meios de comunicação
Uma só versão
Tem a pré - tensão
De ser “a verdade”.

De repente, ou melhor
Da necessidade
De questionar a realidade.

Surge um novo olhar
Que rompendo a caverna do destino
Decifra as sombras do inimigo.

Revelando ao povo sua origem
E de onde vem a opressão

De repente um Grito,

Basta!

Descobre na comunidade
A possibilidade de organizar-se.

E vivenciam que permanecendo juntos
O grito sai mais alto mais forte.

Basta!

Agora fortalecidos
Libertos da miopia
Da verdade imposta.

O olhar da rua
Vislumbra um novo
Que estava ali
Até então imperceptível.

E o grito antes coadjuvante, contido
Agora ecoa na condição de sujeito histórico
Nos lugares mais longínquos
Onde antes se julgava impossível.

E nasce à possibilidade real
De romper a roda do destino.

E os meninos e meninas
Que brincavam ali entregue a própria sorte.

Viram, artistas, repórteres.
Pra contar e reescrever sua história.

(Homenagem aos integrantes do Grupo Olho da Rua)

Wilson Jr.
07/06/2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

2ª Ponte Socorro!














Na ponte que leva e traz o desenvolvimento
Os carros andam lentos.

O ar carregado de fumaça e fuligem
Buzinam estresses, engarrafamento.

Sua aparência robusta esconde
No seu cerne de vergalhão e cimento
Um enfermo sem atendimento.

Será que o seu coração
Agüenta tanta pressão?

Ou as artérias, sem manutenção
Vão dilatando entupidas de trafego
De repente solta um pedaço
AVC, isquemia. Colapso.

Meu corpo sobre seu corpo
Sofre osmoticamente ao ver
Do aço exposto no seu dorso machucado
Sangrar ferrugem
Chagas, buracos
Fraturas exposta ao tempo.

Wilson Jr
15/06/2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Cabelo (O Viking)


No inicio de 2008 fui convidado pelo C. A. (Centro Acadêmico dos Estudantes) da UFES em Alegre no Sul do ES, para monitorar um curso de formação política para os estudantes daquele Campus. O grupo era composto por 28 alunos, predominantemente de agronomia, engenharia florestal e nutrição.

Antes da viajem alguns amigos me disseram: “Alegre só tem bicho grilo” . Explico: São figuras cheias de trejeitos, que ainda segue a moda hippie, usando gírias. Debochados, "tira sarro" de tudo e de todos.

Chegando ao campus universitário, um estudante me chamou atenção de forma especial. Cheio de sardas, cabelos vermelhos estilo dread look sempre de bermuda e camisetas, fazendo propaganda em defesa do meio ambiente. Veio me receber, seu nome Cabelo. Deu-me boas vindas e aos colegas que foram comigo.

Após o primeiro dia do curso, a noite saímos para um momento de confraternização da turma. Era uma linda noite em Alegre. Lua cheia. Na mesa me contaram que Cabelo foi para o campus de Alegre no vestibular de 2000/2, ou seja, já estava lá há oito anos, aluno do curso de Zootecnia, entedia tudo de florestas, conhecia tudo e todos da cidade nos mínimos detalhes. Uma enciclopédia viva.

Perguntei de onde veio esta figura, me disseram que ele é de Campo Grande, Município de Cariacica, região da Grande Vitória e é descendente de italiano.

Olhei aquela figura e não perdi tempo. Você não é italiano nem aqui, nem na Itália véio, você é um Viking!

Todos caíram na gargalhada. Um estudante de Campos (RJ), que foi convidado para participar do curso falou: O cara é a maior figura bro!

Ecologicamente correto, Cabelo andava com uma caneca verde pendurada no pescoço por um barbante, nela tomava: água, café, cachaça, cerveja etc.

Bebeu a noite toda sem pagar uma cerveja. Quando alguém colocava bebida em seu caneco, revirava os olhos como forma de agradecimento e todos caíam na gargalhadas. Piadas, histórias engraçadas, nem vimos a noite passar.

Na semana passada, recebi uma boa noticia. Fui convidado para retornar a Alegre, e dar continuidade ao processo de Formação Política.

Perguntei se todos estavam bem. uma das coordenadoras do C.A. me respondeu com uma voz triste:
- mais ou menos,
- O que houve? Perguntei?
Ela me respondeu que Cabelo foi obrigado a ser formar no segundo semestre de 2009 (por razões óbvias).

Fiquei pensando... Como um Bicho Grilo viverá longe do seu habitat natural? Como ficara a turma sem ele! É que a maioria dos alunos do Campus de Alegre, são de outros municípios do estado e do Brasil, e acabaram de perder a convivência com seu broder mais querido, e com certeza Alegre ficará mais triste sem a presença nórdica do Cabelo.


Wilson Jr

janeiro de 2010



quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Encontro Ancestrais II

















No norte do ES, Sul da Bahia e leste de Minas,
onde antes verdes matas
Sustentavam fauna e flora, quilombos, aldeias
E pequenas propriedades.

Agora Verdes Deserto
De cana e eucalipto
Sustentam o capital.

Margeando a rodovia
Sobre o solo seco rachado
Casas de estuque, o kitungo,
Pequenas roças forno de carvão.

Descendentes de Reis e Rainhas

Arrancados da mãe África
Transportados em tumbeiros.
Sobrevivem como cativo

Do grande Deserto Verde.

Rostos negros receosos de tanta exploração
Organizam-se em Quilombos
Como forma de resistência:
A escravidão,
Ao descaso
Ao esquecimento.

A identidade reside no território,
Na pele negra, na luta pela dignidade

Diante desse quadro ao qual estão submetidos

Nossos Povos Ancestrais, e num momento fraterno
Um misto de alegria e indignação
Tomou conta dos presentes, e foi feita a falação.

No agradeceram à solidariedade
Em forma de grande lição.

“Junta o povo do quilombo,
junta o povo da cidade
precisamos de união
pra defender nossa terra,
Nossos filhos “nossa nação”.
Wilson Jr.Comunidade São Domingos (Sapé do Norte) – ES
28 de dezembro de 2009.







Fotos: Paulo de Tarso http://www.bancariosrjes.org.br/site/