terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Discuso de Formatura Turma "M"

Dedico à classe trabalhadora, pois é lutando por ela que me tornei quem sou, e é lutar por ela que significa a minha vida.
Wilson Jr.


Boa noite a todos! Eu começo agradecendo aos colegas formandos pela confiança de aqui representá-los. Agradeço ao diretor, ao patrono, à paraninfa, aos professores, às demais autoridades aqui presentes, aos pais e convidados por compartilharem esse momento importante de nossas vidas.


E para bem desempenhar a tarefa de educador, é preciso refletir sobre a realidade que nos cerca. Desde a Proclamação da República, a educação sempre esteve em destaque nos discursos, como “a mola propulsora” que levaria ao desenvolvimento da nação e, por conseqüência, ao fim das desigualdades sociais no Brasil.


Passados 122 anos, podemos afirmar: o Brasil se desenvolveu, é a oitava economia do mundo, porém o atual modelo econômico concentra as riquezas nas mãos de poucos, enquanto a maioria da população vive em situação de pobreza. Somos o nº 73 no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.


No que diz respeito à educação, estamos quase alcançando 100% de matrículas nas vagas existentes no ensino fundamental. Mas o número de vagas ainda é insuficiente. E mais: a falta de investimentos compromete o atendimento às crianças nas creches, na educação infantil e no ensino médio e superior; assim como compromete a educação de jovens e adultos. E esse modelo econômico/político produziu uma quantidade enorme de analfabetos absolutos e funcionais.


Segundo A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Brasil é nº 53º no ranking do programa Internacional de Avaliação de Estudante que mede a qualidade do ensino, dos 34 países analisados o Brasil é o que menos investe em educação.


Portanto, podemos afirmar que uma coisa é a prioridade no discurso para a educação. Outra coisa, bem diferente, é a concretização de fato dos investimentos, a adoção de políticas públicas para a educação. E isso não acontece gratuitamente. Educar é criar possibilidades, identidades, resistência. E às vezes me pergunto se isso interessa realmente aos nossos governantes?


Essa é a realidade que vamos lidar no nosso dia a dia nas escolas. Enfrentar os desafios requer de nós, pedagogos, uma análise crítica, organização coletiva e muita criatividade.


Mas, quero neste momento de emoção fala sobre o papel do educador e como podemos lidar no dia a dia com as adversidades. Permito-me fazer, uma analogia do papel da ponte com o do educador.




Devemos ser ponte
(homenagem à turma “M” e a todos os educadores)


Em tempos remotos, quando um tronco de árvore atingido por um raio caiu sobre um rio ou desfiladeiro ligando dois lugares antes desconhecidos, o inesperado supriu um desejo humano. O eu encontrou o nós, surgindo a ideia de ponte.


Quando foram construídas as primeiras pontes, achavam que a rigidez era o mais importante. Depois, com o tempo, descobriram que as pontes muito rígidas sofriam mais desgaste, comprometendo seu papel de ser elo de ligação.


Ao longo da história, as pontes foram mudando, sofrendo transformações. Existem pontes de pedra, corda, madeira, bambu, ferro, vergalhão e cimento; pontes móveis que permitem a passagem de embarcações; as estanhadas construções modernas, verdadeiros monumentos; as maiores e de grande extensão têm até amortecedores nos seus filamentos e – acreditem! – balançam com o vento.


E como não falar das pontes aéreas, oleodutos, aquedutos, minériodutos, palafitas os jardins suspensos da Babilônia, os sistemas de irrigação por gravidade, as tirolesas, a rede mundial de computadores etc.etc.etc.?


Para se fazer uma ponte é necessário saber para onde se quer ir. Anos de estudos e conhecimentos são necessários para escolher a melhor trajetória, o ângulo perfeito para tornar o percurso menos íngreme e mais seguro.


Ao transpor esses obstáculos, a ponte construída permanece ali. Estabelecido o fluxo, os que passam cotidianamente nem se dão conta da sua importância, não sabem da sua história, de como foi constituída, só admiram sua firmeza e confiam na sua solidez.


A ponte está ali. E depois de atravessa-lá, nunca mais seremos os mesmos. Ampliam-se os horizontes; as comparações são inevitáveis; nossas verdades são colocadas em cheque; instala-se o enigma da  esfinge – “decifra-me ou te devoro”.


Mas ser ponte não é tarefa fácil, não é só felicidade. Para ser ponte e conter o atrito necessário ao trabalho, é preciso ter uma base sólida. Os filamentos do seu corpo funcionam como uma coluna vertebral, fazendo movimentos, num momento comprimindo, noutro aliviando a tensão quando das intempéries.


Para transportar seres humanos, histórias, sentimentos e conhecimento é preciso ter cuidado: se o trânsito for intenso, aumenta o sofrimento.


O seu corpo, de tanto atrito, fica rígido, perde sua elasticidade, para de pulsar, deixando os transportados aflitos e sua existência em perigo.


Por isso, ao passar por uma ponte, pela primeira vez olho bem para sua aparência, observo sua estrutura e procuro saber da sua história, da sua construção, da sua confiabilidade. Só assim, depois de um tempo, naturalizo sua existência. Só então me permito ser transportado para os lugares mais longínquos.


Existem pontes de guerras e de paz. É preciso construir as pontes da inclusão, da gestão democrática, desmascarar as pontes da opressão, da hipocrisia e das desigualdades, para juntos construímos, com equidade e respeito, a ponte da liberdade.


Ser ponte é estabelecer o fluxo contínuo, se permitir e possibilitar ao outro a busca do conhecimento que leva à emancipação. Esse é o nosso ofício. E é para isso que estamos aqui.


Obrigado


Wilson Jr.


Cariacica/ES, 06 de janeiro de 2011.