segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Jardineiro Fiel

(Para Nilo Bragato (O jardineiro fiel), a seus descendentes e amigos)

Na Bicuíba, no pé da pedra, na beira do rio, próximo a mata, existe uma família de jardineiros com o exótico hábito de cultivar cactos.

Esse cultivar já vem de longa data, começou com a vovó Antonieta e vovô Nilo, e ao longo dos anos foi passando de geração em geração, abrangendo a todos que com alguém dali tivesse contato e convivesse. Mas não é tarefa fácil cultivar cactos, tem que ter a mente aberta, um lugar aconchegante, ser paciente, ser duro quando necessário sem perder a ternura.

Esses entes cultivados no processo se confundem criador e criaturas, que tem como principais características serem únicos. Em que pesem serem da mesma família e terem hábitos comunitários, uma relação de cactos nunca é tranquila, pois são firmes convictos de suas posições, e o fato de terem espinhos não faz o acordo fácil, respeitem meus espinhos que eu respeito o seu. Mas quem pensa que eles são brutos estão completamente enganados, esses seres diferentes adoram receber afagos, mas cuidado, não use de falsidade, não acuie, não aperte, não oprima, não machuque nenhum deles, e se eles se ajuntarem o bicho vai pegar.

A vovó Antonieta partiu, mas deixou seus frutos bem cuidados nas terras da Bicuíba e por causa destes Jardineiros e dos hábitos aqui construídos a Bicuíba se transformou em um Oasis de calor humano e cultura de resistência contra todas as formas de opressão na gélida Venda Nova do Imigrante.

Pois os seres nasceram para serem livres e na força os filhos e as filhas da Bicuíba e seu Jardineiro fiel nunca se curvarão.


Bananeiras, 13 de outubro de 2013.
Wilson Jr.