Quando foram construídas as primeiras pontes, achavam que a rigidez era o mais importante. Depois, com o tempo, descobriram que as pontes muito rígidas sofriam mais desgaste, comprometendo seu papel de ser elo de ligação.
Ao longo da história, as pontes foram mudando, sofrendo transformações. Existem pontes de pedra, corda, madeira, bambu, ferro, vergalhão e cimento; pontes móveis que permitem a passagem de embarcações; as estanhadas construções modernas, verdadeiros monumentos; as maiores e de grande extensão têm até amortecedores nos seus filamentos e – acreditem! – balançam com o vento.
E como não falar das pontes aéreas, oleodutos, aquedutos, minériodutos, palafitas os jardins suspensos da Babilônia, os sistemas de irrigação por gravidade, as tirolesas, a rede mundial de computadores etc.etc.etc.?
Para se fazer uma ponte é necessário saber para onde se quer ir. Anos de estudos e conhecimentos são necessários para escolher a melhor trajetória, o ângulo perfeito para tornar o percurso menos íngreme e mais seguro.
Ao transpor esses obstáculos, a ponte construída permanece ali. Estabelecido o fluxo, os que passam cotidianamente nem se dão conta da sua importância, não sabem da sua história, de como foi constituída, só admiram sua firmeza e confiam na sua solidez.
A ponte está ali. E depois de atravessa-lá, nunca mais seremos os mesmos. Ampliam-se os horizontes; as comparações são inevitáveis; nossas verdades são colocadas em cheque; instala-se o enigma da esfinge – “decifra-me ou te devoro”.
Mas ser ponte não é tarefa fácil, não é só felicidade. Para ser ponte e conter o atrito necessário ao trabalho, é preciso ter uma base sólida. Os filamentos do seu corpo funcionam como uma coluna vertebral, fazendo movimentos, num momento comprimindo, noutro aliviando a tensão quando das intempéries.
Para transportar seres humanos, histórias, sentimentos e conhecimento é preciso ter cuidado: se o trânsito for intenso, aumenta o sofrimento.
O seu corpo, de tanto atrito, fica rígido, perde sua elasticidade, para de pulsar, deixando os transportados aflitos e sua existência em perigo. Por isso, ao passar por uma ponte, pela primeira vez olho bem para sua aparência, observo sua estrutura e procuro saber da sua história, da sua construção, da sua confiabilidade. Só assim, depois de um tempo, naturalizo sua existência. Só então me permito ser transportado para os lugares mais longínquos.
Existem pontes de guerras e de paz. É preciso construir as pontes da inclusão, do repeito as diferenças, desmascarar as pontes da opressão, da hipocrisia e das desigualdades, para juntos construímos, com equidade e respeito, a ponte da liberdade.
Ser ponte é estabelecer o fluxo contínuo, se permitir e possibilitar ao outro a busca do conhecimento que leva à emancipação. Esse é o nosso ofício. E é para isso que estamos no mundo.
Wilson Jr.